No horizonte da mobilidade brasileira, surge uma revolução silenciosa que está prestes a transformar a forma como nos deslocamos. Carros elétricos e híbridos avançam em direção ao futuro do trânsito nacional, mas um desafio iminente se impõe: a adaptação dos condomínios a essa nova realidade.
Custos, demanda energética e modelos de cobrança estão em jogo, e é nesse cenário que a história deste artigo começa, com a necessidade urgente para que os condomínios preparem-se para o futuro elétrico.
Neste post, entenderemos esse cenário do ponto de vista de Maicon Guedes, Embaixador Porter Group, advogado, Mestre e Professor em Direito e CEO da Informma Síndicos.
Carros elétricos são o presente, não o futuro
Cada vez mais comuns nas ruas do país, os carros elétricos e híbridos têm conquistado seus espaços nos corações brasileiros. De forma surpreendente , projeções apontam que em 2040 mais da metade dos carros circulando terão motorização – ainda que parcial – elétrica.
Mas, apesar de ser um dado interessante, não podemos olhar apenas para o futuro para começar a nos atentarmos a isso. Hoje em dia já existe um número expressivo de condôminos que são proprietários de carros elétricos e que precisam carregá-los em sua vaga no condomínio.
Infelizmente, somente os empreendimentos mais recentes e de alto padrão vêm dotados de preparação para receber a nova frota elétrica, o que evidencia a necessidade de adaptação.
Isso significa dizer que a esmagadora maioria dos condomínios que foram projetados em outros tempos demandam do síndico um preparo e planejamento que deve começar antes mesmo do primeiro morador com carro elétrico, mapeando e aplicando as possíveis adaptações ou alertando proprietários caso seja inviável contar com pontos de recarga no condomínio.
Carros elétricos: quais os principais cuidados?
1. Custos da instalação
Para que seu condomínio tenha a tomada para recarga na vaga, existirão custos da tomada em si, cabeamentos, infra e adaptações para energizar desde o quadro.
É muito importante ficar claro que esses custos são de responsabilidade do morador, salvo casos em que haja assembleia que defina que o próprio condomínio fará instalação, beneficiando com tomadas todas as unidades da garagem.
Nesses casos, haverá maior fiscalização e um custo menor por apartamento. Uma possível problemática é a necessidade de convencer moradores que não tenham carros elétricos a investir.
Um bom argumento é que, mesmo que ele não utilize a tomada naquele momento, as instalações resultarão em uma valorização para sua unidade, pois ampliará a gama de possíveis locatários/compradores no futuro.
2. Demanda energética
Cada empreendimento tem em seu projeto elétrico um dimensionamento para uso de energia nas unidades e áreas comuns.
Calcula-se em média quanto cada unidade demandará, quais equipamentos e iluminação estarão presentes em áreas comuns e, a partir disso, faz-se a dimensão – com certa folga – de fiação, disjuntores, quadros elétricos, necessidade de cabines primárias, etc.
Logo, há também uma previsão no uso para garagens, que, via de regra, não contam com tomadas para carros elétricos.
O que “sobra” de energia na conta – de 100Kw a 200Kw no máximo – é suficiente para ligar equipamentos como aspiradores, lavadoras de alta pressão e lâmpadas excedentes, mas não é capaz de suportar vários carros elétricos sendo carregados simultaneamente.
Para se ter uma ideia, a maioria dos veículos elétricos no Brasil carregam em 7,4kW ou 11kW, chegando em alguns casos a 22kW. Nos – insanos – Teslas, podem passar de 100kW.
Logo, se as tomadas forem instaladas para fornecer carga plena para esses carros e eles forem carregados simultaneamente, apenas dois veículos Tesla podem derrubar os disjuntores de toda a garagem.
Quando a demanda por carga for maior do que a fiação e disjuntores conseguem suportar, o quadro elétrico irá desarmar e deixar a garagem no escuro.
Por isso o seu planejamento deve começar antes mesmo do primeiro carro elétrico, se preparando para o futuro, quando vários bólidos energizados adentrarão as garagens do seu condomínio.
Carros elétricos são um risco?
Apenas um veículo não, mas três ou quatro carros, dependendo da “sobra” energética para a garagem e tomadas permitidas, podem causar um “distúrbio na força”.
Por essa complexidade, é necessário que o condomínio receba acompanhamento de uma empresa especializada. É preciso definir pontos como:
- Número máximo de veículos em carregamento simultâneo;
- Carga máxima de cada carregador
- Necessidades de redimensionamento do projeto elétrico em casos com demanda muito alta por veículos elétricos
- Necessidade de instalação de medidores da Companhia de Energia local diretamente conectados às tomadas de cada vaga, etc.
Apenas um Engenheiro Elétrico poderá fazer isso por você.
Existem empresas que instalam tomadas/medidores inteligentes que distribuem a carga remanescente da garagem, ajustando a velocidade conforme o número de carros conectados.
3. Pagamento do consumo da energia
O terceiro fator para se atentar – e possivelmente o que mais costuma gerar confusão em grupos de moradores – é:
“Mas o camarada do 401 está carregando sua BMW na área comum e EU, que não tenho carro elétrico, preciso que pagar a conta dele?”
Estabelecer desde o princípio como serão feitas as leituras do uso de energia nos carregadores das vagas veiculares no condomínio é vital para evitar esse tipo de situação.
A instalação de medidores de energia antes das tomadas veiculares torna relativamente fácil contornar isso.
O responsável fará a leitura dos medidores e encaminhará para a Administradora, que fará a cobrança no boleto, como ocorre com hidrômetros e gás.
A diferença aqui é que nem todos terão medidores. Caso algum morador instale a tomada sem o respectivo medidor, deverá ser notificado/multado para imediata regularização.
Caso o condomínio aprove a instalação de medidores individuais em cada garagem solicitada junto à companhia de energia, a leitura será dispensada.
Isso porque a própria companhia fará a cobrança, sem integrar esse consumo à fatura das áreas comuns do Condomínio.
Conclusão
A revolução dos carros elétricos está em marcha, e o futuro da mobilidade brasileira já se faz presente. Contudo, esse novo cenário impõe um desafio crucial aos condomínios: a adaptação para receber a nova frota elétrica.
Neste artigo, percorremos os aspectos fundamentais dessa transição, como os custos da instalação, a demanda energética e os modelos de cobrança.
De fato, a necessidade de preparação é urgente, e é nesse contexto que a jornada dos condomínios rumo ao futuro elétrico começa.
Aqui, exploramos os principais cuidados e ações necessárias para enfrentar esse novo horizonte com segurança e eficiência. Agora, faça sua parte e comece a agir.
O presente é elétrico, e a transformação já começou.